
Animais ajudam em tratamento
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Os benefícios da interação homem e cavalo são conhecidos desde a Antiguidade. Em 377 a.C., Hipócrates já considerava a equitação um elemento regenerativo à saúde.
O médico Asclepíades, da Prússia, aconselhava o método como tratamento para epilepsia e diferentes casos de paralisia. Em 1901, o Hospital Oswentry, na Inglaterra, inseriu a equoterapia em um contexto científico, aperfeiçoando e divulgando a técnica. A partir de 1960 difundiu- se pela Europa (especificamente entre os ingleses e franceses). Nessa época também atingiu a condição de matéria didática na Universidade de Paris, onde foi defendida a primeira tese de doutorado em medicina a respeito. No Brasil, os experimentos começaram na década de 1970, pelas mãos da médica Gabriele Walter, e em 1989, a Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil), com sede em Brasília, oficializou a especialidade. Oito anos depois, graças à atuação da entidade e da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação, o Conselho Federal de Medicina reconhece o método como prática terapêutica.
Muitos portadores de necessidades especiais são submetidos a procedimentos prolongados, o que pode levar a desmotivação e até ao abandono dos tratamentos convencionais. Por isso é que a equoterapia tem sido utilizada com sucesso nas áreas de saúde e educação.
Mais do que uma atividade prazerosa, ela é um instrumento de reabilitação neuropsicossocial. Especialistas em todo o mundo comprovam os benefícios para praticantes com deficiências motoras, paralisia cerebral, distúrbios de relacionamento, síndrome de Down e autismo, entre outros problemas. A equoterapia mexe com todo o organismo, contribuindo para o desenvolvimento da força, do tônus muscular, da flexibilidade e da conscientização do próprio corpo.
A relação com o animal estimula, desafia, promove experiências novas, permitindo uma maior integração com o ambiente social pelo contato direto e pela atuação da equipe multidisciplinar. Outra vantagem: há uma troca de afeto incondicional – o animal jamais discrimina a pessoa com necessidades especiais -, o que promove o aumento de autoconfiança, auto-estima e autocontrole. Não há limite de idade para iniciar esse tipo de tratamento e qualquer um pode fazêlo, desde que o médico responsável pelo paciente autorize a prática.
“O CAVALO ME APRESENTOU UM MUNDO TOTALMENTE DIFERENTE, UM UNIVERSO QUE TRABALHA POSSIBILIDADES AO INVÉS DE DIFICULDADES”
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Minha experiência com reabilitação de portadores de necessidades especiais começou há 15 anos, em instituições especializadas. Há cinco anos faço parte da equipe de Equoterapia do Regimento de Cavalaria 9 de Julho, em São Paulo. E esta tem sido uma grande escola. O cavalo me apresentou um mundo totalmente diferente, um universo que trabalha possibilidades ao invés de dificuldades. Estar em contato com o animal, montado ou simplesmente segurando a rédea, nunca deixa o praticante frustrado por não ter conseguido executar tarefas, pois só o fato de dominar a situação é sinal de que ele á capaz de muita coisa.
Vejo na prática resultados surpreendentes, como o caso de uma garota autista que se recusava a ser tocada. Começamos a trabalhar o ritmo do cavalo, chamando a atenção da menina com o estalar da língua. Depois mudamos a passada, de lenta para mais rápida (passo e trote), paradas repentinas, etc. Em todas as sessões colocávamos uma música no início e no final. Em quatro meses, a criança mantinha contato visual com os profissionais, aceitava o toque, acariciava o animal e cantava as canções por iniciativa própria.
A relação homem-animal ensina a cada dia lições de tolerância, responsabilidade e principalmente de amor.
POR CLAUDIA MELLO, PSICÓLOGA ESPECIALIZADA EM EDUCAÇÃO E SAÚDE, VOLUNTÁRIA NA EQUOTERAPIA NO REGIMENTO DE CAVALARIA 9 DE JULHO)